Hoje eu preciso ficar comigo

Não, por favor, não pensa que é algo pessoal. Não é nada contra a tua pessoa ou a tua companhia, mas hoje não dá. Eu preciso ficar comigo e só comigo.

Não, não me liga em desespero querendo saber o que aconteceu. Não me manda mil mensagens perguntando porque eu estou sumida. Não diz que vai colocar a polícia atrás de mim se não tiver notícias.

Às vezes tem alguma coisa que acontece em que eu necessito desesperadamente ficar comigo e só comigo. Preciso desligar o telefone e olhar pro ventilador de teto girando em cima da cama até meus olhos doerem.

O motivo? No momento, isso é entre eu e mim, apenas.

Hum, não acho que o motivo de tu querer tanto saber o que aconteceu seja preocupação não, acho que é só curiosidade, porque eu já falei que estou bem e que não aconteceu nada grave. No mesmo momento em que falei que precisava ficar sozinha.

A Estranha Agonia de Não Faltar

O pior sentimento do mundo é aquele traduzido na frase “ninguém vai reparar se eu sumir”.

Caramba, essa frase por si só já me dá calafrios, e esse significado pesado, então… Os olhos já começam a suar com umas lágrimas tímidas.

É desesperador perceber que tu não faz falta, que não faz diferença, ser apenas um desperdício de espaço. Não sei se dá pra entender o quão sufocante é quando você está sozinho e ninguém lembra que você existe.

Então você se sente louca. Não é possível isso, alguém tem que sentir a minha falta, eu preciso ser importante pra alguém, não posso ser tão descartável. Aí resolve testar.

Dez minutos. Uma hora. Duas horas. Doze horas. Um dia inteiro.

Não vou ser a louca de deixar isso acontecer pra sempre.

Mando mensagem, marco em meme do Facebook, ligo pra colocar conversa fora, mando um Story com um filtro tosco. Me faço notar de maneira ativa.

Se tem uma coisa que eu não quero é a confirmação de que eu não importo.

Uma Coisa Minha

Me perguntaram recentemente se eu escrevia.

Nossa. Credo. Eu escrevia muito.

Uma vez fui dormir na casa da minha avó e esqueci meu caderno. Não tinha onde escrever. Peguei uma caneta e escrevi na sola do sapato.

Eu gostava de escrever pra colocar as ideias em ordem. Pra reler depois e me sentir ou idiota e, então mais madura; ou sóbria e comedida desde sempre. Era relaxante, mas também era o meu caminho para os lugares mais sombrios. Sempre achei minha escrita deprimente, sombria, depressiva.

Hoje, não dá pra dizer que eu não escrevo. Passo 8h por dia trabalhando num computador, onde escrevo mil demandas, relatórios, e-mails, atas de reuniões. Fora disso, são mais umas 3h por dia no celular, onde a maioria é no Whatsapp ou outros apps de troca de mensagens.

Acho que nunca na vida eu escrevi tanto.

Mas antes eu escrevia para mim, como um hobby, como uma coisa que eu gostava e que me relaxava. Nunca consegui ser do tipo organizada, que fazia posts de desafios onde tem que escrever todos os dias de um mês. Era mais do tipo “estou me sentindo mal, preciso colocar pra fora” e saiam palavras.

Era uma coisa pra mim, agora é uma coisa pros outros.

Bom saber que sempre dá pra mudar.